260km - João Valério
A tradicional e anual aventura/travessia por mim organizada voltou em 2017 a realizar-se em Portugal, desta feita com o objetivo de levar o nosso pequeno grupo a conhecer algumas paisagens e trilhos no Gerês. Aproveitámos também a viagem de carro até lá para conhecermos e percorrermos na totalidade a Ecopista do Dão, mas também e para terminar fizemos a ligação entre o Gerês e Viana do Castelo "colando" diversos percursos independentes da Ecovia do Rio Lima.
Desta vez tivemos a estreia de 2 novos elementos no grupo: a Sara Lopes e o Pedro Pires. Além deles, acompanharam-nos (e também pela primeira vez) a Sofia e a Marta, que foram as motoristas de serviço das duas carrinhas utilizadas para deslocação do grupo de participantes e dos respetivos sacos. Ao contrário de outras aventuras, desta feita só precisámos de levar o mínimo e indispensável para realizar os percursos, onde os bidons e mochilas de hidratação foram suficientes.
ETAPA #1 = 51,36km
A integral Ecopista do Dão
A integral Ecopista do Dão
Após um par de horas de viagem de carro chegámos ao local de partida para a nossa 1.ª etapa desta aventura - Santa Comba Dão, onde se inicia oficialmente a Ecopista do Dão.
Desta vez a cor dominante do grupo foi o cor de laranja, do equipamento dos elementos do A.C. BTT do Fôjo (Renato Valério, Manuel Maia, Marco Lopes; Pedro Pires e Sara Lopes), ficando eu a destoar com o verde representativo do Clube de BTT Zona 55. O dia estava propício para umas boas pedaladas, sem vento nem muito calor e com o sol a brilhar lá no alto.
Tal como previsto, o piso não apresentava qualquer dificuldade ao nosso andamento, pois trata-se de pavimento totalmente cimentado, cuja cor altera à medida que vamos entrando nos limites de um outro concelho (azul em St.ª Comba Dão, verde em Tondela e vermelho em Viseu). Na direção que tomámos é praticamente sempre a subir até final, mas com uma percentagem de inclinação mínima que quase não nos apercebemos.
O percurso apresentou-se sempre bastante limpo e com o piso em ótimas condições. As paisagens que ladeiam todo o percurso são belíssimas e nada monótonas.
Os edifícios das antigas estações e apeadeiros ainda se mantêm de pé e em condições aceitáveis, alguns deles reaproveitados para outras utilizações. Por vezes cruzamos rodovias onde existem barreiras perpendiculares que temos de contornar para assim abrandar o ritmo e permitir atravessar com segurança.
Chegados a Viseu após pouco mais de 2 horas de caminho e sem quaisquer avarias, já tínhamos à nossa espera as condutoras do staff. Tomámos banho nas instalações do Comando Distrital da P.S.P. de Viseu, o qual já havíamos contatado uns dias antes nesse sentido. Optámos por almoçar num simpático restaurante localizado no centro da cidade, após o qual nos fizemos à estrada, agora de carro, para cumprir o resto da viagem até ao Gerês.
Track total realizado na Ecopista do Dão
A subida continuou e até atingirmos perto dos 900m de altitude, com um acumulado de subida digno de registo. Era hora de aproveitar a paisagem e tirar umas fotos antes de continuarmos.
Adiante fizemos mais uns quantos amigos, pois por estas bandas com frequência nos cruzamos com gado bovino a pastar livremente sem a supervisão humana. O terreno lá aplanou, o que nos permitiu apreciar mais convenientemente o ambiente que nos rodeava.
Aproveitámos a passagem por uma pequena e pitoresca aldeia com uma fonte de água potável junto à estrada para atestarmos os nossos bidãos e mochilas.
De regresso às subidas voltámos a encontrar mais algumas amigas vacas barrosãs deitadas junto ao trilho pachorrentamente, mas que mesmo assim não deixavam de impor respeito.
Fizemos o regresso aproveitando a milenar rota romana que em tempos idos ligava as cidades de Braga e Astorga, denominada IV Via Militar Romana, sobejamente conhecida por estas terras altas.
A dureza desta via romana é discutível, não tendo sido achado consenso entre os elementos do nosso grupo. Algumas vezes obriga-nos a desmontar, devido às enormes pedras e ausência de um trilho ciclável, outras leva-nos a passar por regatos e regos de água fresca e fluída, mas constantemente é composta de piso irregular, maioritariamente empredado a boa maneira da conhecida calçada romana.
Track total realizado
Etapa #3 = 74km
Do Gerês à Rota das Sombras
Track total realizado
Etapa #4 = 76,80km
Do Gerês a Viana do Castelo pela Ecovia do Lima
Track realizado
Após chegados ao Gerês, já com as reservas dos 2 bungalows feitas na Pousada da Juventude local, situada em Vilarinho das Furnas, ali bem próximo à Barragem com o mesmo nome, rapidamente nos acomodámos e organizámos para que no dia seguinte estivéssemos a postos para dar início à grande aventura.
Resumo em vídeo desta etapa.
Etapa #2 = 54,82km
Entre o Gerês e as Terras de Bouro
Entre o Gerês e as Terras de Bouro
Acordámos cheios de vontade de dar-mos início à nossa 1.ª etapa e aventura no Gerês. O despertador para este e os próximos dias tocava às 07h30. Depois de tomado o pequeno-almoço no refeitório da Pousada estava na hora de nos pôr-mos ao caminho.
Tal como previsto, começámos por uma subida, mas em asfalto, para rolarmos em direção ao Sul e a Terras de Bouro. Quanto mais subíamos, mais bonita se ia tornando a paisagem, ainda mais porque a manhã estava solarenga e fresca, tudo se complementando para um excelente dia de btt.
A manhã parecia que iria ser toda ela passada a subir. Subimos, subimos e subimos até ter-mos uma vista fantástica sobre a vila do Gerês e o Rio Cávado com as suas praias fluviais.
Como tudo o sobe tem de descer... finalmente chegámos a esse ponto, que apesar de ter sido uns bons quilómetros passou rápido demais e, subitamente já estávamos novamente a subir.
À medida que o sol ia subindo, tal como nós, também o calor começava a apertar. Deparámos-nos aqui com uma subida de extrema inclinação, onde me vi obrigado a parar face ao elevado batimento cardíaco, vendo a mancha laranja a afastar-se de mim a pouco-e-pouco.
Já com cerca de 3/4 da subida mais longa do dia feita, começámos a encontrar umas bem-vindas sombras e, ainda melhor, encontrámos um enorme tanque à beira do trajeto cuja água estava extremamente fria e onde mergulhámos para arrefecer o motor e recuperar o fôlego.
A subida continuou e até atingirmos perto dos 900m de altitude, com um acumulado de subida digno de registo. Era hora de aproveitar a paisagem e tirar umas fotos antes de continuarmos.
Adiante fizemos mais uns quantos amigos, pois por estas bandas com frequência nos cruzamos com gado bovino a pastar livremente sem a supervisão humana. O terreno lá aplanou, o que nos permitiu apreciar mais convenientemente o ambiente que nos rodeava.
Aproveitámos a passagem por uma pequena e pitoresca aldeia com uma fonte de água potável junto à estrada para atestarmos os nossos bidãos e mochilas.
De regresso às subidas voltámos a encontrar mais algumas amigas vacas barrosãs deitadas junto ao trilho pachorrentamente, mas que mesmo assim não deixavam de impor respeito.
Fizemos o regresso aproveitando a milenar rota romana que em tempos idos ligava as cidades de Braga e Astorga, denominada IV Via Militar Romana, sobejamente conhecida por estas terras altas.
A dureza desta via romana é discutível, não tendo sido achado consenso entre os elementos do nosso grupo. Algumas vezes obriga-nos a desmontar, devido às enormes pedras e ausência de um trilho ciclável, outras leva-nos a passar por regatos e regos de água fresca e fluída, mas constantemente é composta de piso irregular, maioritariamente empredado a boa maneira da conhecida calçada romana.
Após mais um encontro imediato com gado barrosão, fizemos os últimos 5km de regresso à Pousada por asfalto, o único percurso viável existente. Terminámos exaustos mas felizes. Este primeiro dia no Gerês foi deveras esgotante e surpreendente, deixando-nos com uma opinião nada consensual quanto às expectativas que levávamos.
Track total realizado
Etapa #3 = 74km
Do Gerês à Rota das Sombras
A 2.ª etapa no Gerês teve início idêntico à do 1.º dia, novamente com uma subida inicial em asfalto, no entanto, desta vez virámos a Norte por um percurso que prometia ser surpreendente e fantástico.
Apenas com 5km percorridos, numa descida bastante íngreme e técnica, o Pedro Pires sofreu uma queda, que apesar de ligeira o levaria a ponderar desistir face às dores e ferimentos num tornozelo, porém com umas palavras de ânimo e os primeiros socorros dados, lá o convencemos a continuar.
Imediatamente a seguir encontrámos mais uma contrariedade: o trilho que era suposto existir e que me fez marcar o track por ali, só era possível apeado, pois trata-se de um percurso pedonal. Ainda tentámos outras hipóteses mas todas se mostraram inviáveis. A opção foi seguir em frente ao longo de algumas centenas de metros, onde perdemos imenso tempo até conseguirmos ligação a uma estrada asfaltada uns metros de altitude mais abaixo, onde desembocámos num miradouro sobre o Rio Cávado e a vila do Gerês.
Até à Portela do Homem foram 500 metros de acumulado positivo em apenas 6km de asfalto a um ritmo que parecia levar os travões puxados. Pelo caminho ainda ultrapassámos um bonito cavalo que teve a amabilidade de encostar para nós, e os automóveis, passarmos.
Até chegarmos à Portela do Homem, a estrada que liga à vila do Gerês passa no coração da serra, com bastantes fontes e água a correr vinda de tudo quanto é sítio. As árvores são aos milhares e o ambiente é bastante húmido, o que faz com que o piso nos obrigue a redobrada atenção, além da constante passagem de trânsito rodoviário, pois esta é a única via possível.
Após cruzarmos a fronteira fizemos uma pequena paragem para recuperar o fôlego e trocar opiniões sobre a maravilhosa paisagem e luxuriante floresta que acabáramos de passar. Esperava-nos uma longa descida, ainda em asfalto, antes de regressarmos finalmente à terra batida.
Já em terras de nuestros hermanos e de volta à terra batida a paisagem alterou-se drasticamente: menos vegetação, que permite ver melhor as montanhas que nos rodeiam e consequentemente a inexistência de humidade e regatos por tudo quanto é sítio, mas apesar disso apanhámos uma brisa fresca que fez com que tolerássemos bem o sol e o calor. Inicialmente percorremos ainda cerca de 10km em subida, com algumas zonas arborizadas aqui e acolá.
Estávamos agora definitivamente no trilho que é conhecido em ambos os lados da fronteira por Rota das Sombras. Aqui a altitude permite-nos ver lá em baixo um pequeno ribeiro que desliza lentamente pelo interior do vale cavado na rocha já bastante desgastada entre as duas elevações de montanha.
Sensivelmente a meio do percurso, ainda em Espanha, aproveitámos uma queda de água e um pequeno lago formado sobre as rochas para nos divertirmos um pouco, mergulhando e atestando os bidons, pois o calor começava a apertar quando o relógio já marcava além das 12h00.
Seguiram-se alguns quilómetros de incursão no vale para descermos até Lobios junto ao leito do que lá de cima parecia um ribeiro, mas que afinal trata-se do Rio Vila Meâ (Rio Vilameá, em espanhol). Fizemos cerca de 5km a pé, pois a progressão regular em btt é simplesmente impossível, devido ao piso inconstante de rochas, por vezes ponteagudas, ainda assim, as oportunidades que nos eram dadas para pedalar foram de elevada dificuldade técnica, exigindo elevada atenção e controlo da bicicleta.
Aos elementos do grupo comuns a anteriores aventuras, o aparecimento de uma bengala num monte de pedras empilhadas fez-nos lembrar as nossas aventuras pelo Caminho de Santiago e Caminho Francês, já a dificuldade do terreno nos fez lembrar a nossa travessia da Escócia junto ao Lago Lemond (Loch Lomond).
Um pouco antes de chegarmos à povoação de Vilameá, que dá nome a este Rio, no final da nossa descida (a pé) tivemos nova surpresa ao encontrar um novo lago que, como não podia deixar de ser, aproveitámos para mais um fresquinho e divertido mergulho, após isso e já na rodovia de ligação à Portela do Homem parámos num café à beira da estrada principal em Vilameá para comer umas sandochas, antes de começarmos a longa e chata subida de 8km em asfalto de regresso a Portugal.
Novamente em Portugal e no fresquinho da "selva", fizemos o caminho de regresso, desta vez a descer, e novamente em asfalto, pois por maioria de votos decidimos alterar o percurso que nos levava de regresso à Pousada, para seguirmos em direção até à vila do Gerês, tendo como destino a Praia Fluvial de Alqueirão, para ali dar-mos um mergulho.
Depois de combinarmos o novo plano com as nossas motoristas de apoio das carrinhas de apoio, juntamos-nos a elas na praia fluvial onde demos por terminada a nossa jornada, aproveitando para fazer um pouco de praia após o que regressámos de carro já com as biclas no tejadilho e assim até aproveitámos para nos abastecermos num supermercado local, porque um pouco desiludidos com a qualidade das refeições da Pousada, decidimos que as restantes refeições seriam confecionadas por nós, em grupo, aproveitando as excelentes condições dos nossos 2 enormes bungalows.
Track total realizado
Etapa #4 = 76,80km
Do Gerês a Viana do Castelo pela Ecovia do Lima
Chegara o nosso 4.º e último dia de aventura! Hoje teríamos pela frente a ligação em btt a Viana do Castelo ao longo de quase 80km e, posteriormente, o regresso a casa de carro de 290km.
Nesta derradeira etapa só tínhamos dificuldade nos 18km iniciais. Após transpormos a Barragem de Vilarinho das Furnas seguiu-se uma longa subida em asfalto. Como a etapa tinha meta distante, as nossas motoristas ficaram de se encontrar connosco já no final, em Viana do Castelo, até estávamos por nossa responsabilidade.
Chegados à primeira povoação - Brufe, surgiu logo a primeira dificuldade. Por minha iniciativa , à saída da aldeia desenhei o track por zonas agrícolas, de forma a evitar o máximo possível asfalto, mas a ideia saí-me furada pois mesmo após conselho de uma idosa local e agricultora, teimei seguir até não mais ter escapatória, o que nos obrigou a regressar à aldeia para tomar a estrada alcatroada. Ainda assim foi fantástico, pois apesar de ter-mos perdido tempo andámos uns quantos quilómetros por trilhos magníficos.
Não foi preciso muito tempo para voltarmos a ter de alterar o percurso! Infelizmente, novamente e por desconhecimento do terreno, desenhei o track sem ligar a curvas de nível e, no local, o trilho que era suposto existir não apareceu, ou por outra, estava repleto de mato intransponível, obrigando-nos a andar com a bicicleta às costas uns 20 min. numa encosta pejada de mato alto com inclinação acentuada e caminhos de cabras montesas.
Um pouco chateados com a situação, alguns elementos do grupo ainda me juraram vingança, mas rapidamente tudo serenou quando regressámos aos bons trilhos, que nos permitiram o contacto com cavalos, ovelhas e vacas nos pastos, livremente como até aqui já estávamos habituados a vê-los.
Chegados às "portas" de Ponte da Barca abandonámos definitivamente os trilhos de montanha para entrarmos na Ecovia do Lima, de onde seguimos até Viana do Castelo sempre com o Rio Lima como nosso companheiro.
O bom piso e excelente manutenção do percurso não nos ofereceu qualquer dificuldade, somente o tempo que perdera-mos e o esforço gasto para sair da montanha nos havia deixado um pouco abatidos. Sem perdermos a tradição, a cada local merecedor fazíamos a nossa paragem para fotos, comer, ou simplesmente dar um mergulho.
Em Ponte de Lima parámos para comer umas sandes e beber uns líquidos, por forma a dar-nos a energia suficiente para chegarmos até ao mar.
A cerca de 30km de Viana do Castelo começámos a sentir a brisa marítima que nos acompanhou até lá, sempre a ritmo elevado e sem problemas físicos nem técnicos, o que felizmente nunca tivemos. A foto do dia foi junto do ex-Navio Hospital Gil Eanes, que hoje em dia funciona como Pousada, onde já tive o privilégio de pernoitar aquando a minha deslocação à 2.ª Maratona Cidade de Viana do Castelo, no ido ano de 2009.
Antes de nos fazermos ao caminho para casa, após a simpática disponibilização dos balneários por parte e nas instalações do Comando Distrital da PSP de Viana do Castelo, rumámos até próximo da Feira Medieval que ali se estava a realizar e entrámos num dos restaurantes locais para fazer uma refeição sem nome definido, pois serviu-nos de almoço, lanche e jantar, simultaneamente. Resta-me terminar esta reportagem congratulando-me por, mais uma vez, ter corrido tudo pelo melhor, com excelente camaradagem entre todo o grupo, em que tivemos oportunidade de conhecer mais algumas regiões com a ajuda das nossas bicicletas a ritmos bem agradáveis.
Track realizado
Resumo vídeo das 3 últimas etapas
Créditos à reportagem
Texto: João Valério
Fotos: João Valério, Manuel Maia, Renato Valério
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