Representação a cargo de:
513km (15.703D+) - João Valério
O percurso planeado de
44,89km foi alvo de alterações por indicação do R. Teixeira, de forma a
fazermos menos asfalto e a conhecer alguns ex-libris não previstos, resultando
em 57,43km, mas valeu a pena! O dia amanheceu solarengo mas a meio da manhã já
chovia. Na 1.ª parte do dia, quase sempre a chover intensamente e em pavimento asfaltado, pedalámos junto à costa onde
visitámos faróis, moinhos típicos e cais de pescadores, entrando depois no
interior para uma obrigatória visita à caldeira e furna do enxofre, após o que
os nossos novos amigos se separaram de nós.
PREFÁCIO
Antes de mais
esclareço que esta aventura não teve qualquer tipo de apoios financeiros nem
patrocínios, somente entre ajudas gratuitas.
AÇÃO IMPORTANTE!
Se não tens intenção
de planear umas pedaladas no Grupo Central dos Açores, faz roll-up e “atalha”
diretamente para a 1.ª etapa desta aventura.
Os agradecimentos
Por norma costumam vir
no final, mas neste caso vou fazer uma excepção, porque sem o apoio dado pelos
adiante nomeados, esta nossa aventura teria sido muito mais difícil de planear
e certamente bem mais cara e dura. Graças a eles, este desafio resultou muito mais
prazenteiro e descomplicado. Obrigado a todos vós:
- União de Parceiros
BTT dos Trilharistas dos Açores;
- Carlos Reis
(representante Trilhos de BTT da ilha Terceira);
- Carlos Espínola
(representante Trilhos de BTT da ilha Graciosa);
- Sandro Cunha (membro
Trilhos de BTT da ilha Graciosa);
- Paulo Silveira
(representante Trilhos de BTT da ilha de São Jorge);
- Rui Oliveira (ilha
Terceira);
- Rui Maciel
(representante Trilhos de BTT da ilha do Pico);
- Inácio Russo (membro
Assoc. Ciclismo dos Açores – ilha do Faial);
Os participantes
Nesta aventura de 2019
o nosso grupo foi composto pelos 6 convivas: João Valério (Clube de
BTT Zona 55), Renato Valério (A.C. BTT Fôjo),
Carlos Navalho (A.C. BTT Fôjo/ Schwarzwaldvereine MTB – Floresta Negra), Anacleto
António (A.C. BTT Fôjo), Vítor Campos
(Templários BTT) e Manuel Maia (A.C. BTT Fôjo).
A escolha do local da
aventura
Conforme já é normal,
o planeamento fez-se ao longo de 1 ano e começou logo após havermos terminado a
aventura de 2018 (Travessia
da Floresta Negra – Alemanha). O local escolhido recaiu sobre os Açores, mas como os
Açores têm 9 ilhas, dispersas por 3 grupos, por motivos de logística e
disponibilidade de tempo dos participantes, ficámos condicionados às 5 ilhas do
grupo central, o que mesmo assim ainda foi um osso bem duro de roer, que me
deixou agarrado ao computador muitas noites e madrugadas até que todas as peças
encaixassem perfeitamente.
A escolha do tipo de
transporte até ao destino
Inicialmente preocupei-me apenas em conseguir
arranjar as ligações necessárias entre todas as ilhas, deixando os percursos
para mais tarde. As ligações entre as diversas ilhas podem ser feitas de avião
ou de navio (assegurado exclusivamente pela Atlântico Line). De avião, além de ser uma opção mais
cara do que o navio, tem a dificuldade acrescida das bicicletas terem de seguir
desmontadas e encaixotadas/emaladas, porém, os voos têm maior frequência entre
as ilhas mais afastadas do grupo central que eu pretendia ligar
(Terceira/Graciosa/São Jorge).
Como todos sabem, para
se garantirem bons preços na compra de bilhetes de avião, o segredo é
comprarmos com a maior antecedência possível, o que, neste caso, foi uma
terrível dor de cabeça, porque só os pude comprar após conhecer o plano de
viagens da Atlântico
Line para o
ano de 2019, o que só veio a acontecer em meados de Março. Ainda em 2018
imprimi os pdf’s publicados pela Atlântico
Line no seu
antigo site e estudei-os a bom rigor, porém e apesar dos planeamentos anuais
serem mais ou menos parecidos, não havia forma de garantir datas concretas das
viagens, em especial a da linha amarela (ligação quase completa entre todas as
ilhas) que era a que mais me preocupava.
Após diversos contatos
e insistências com a Atlântico
Line, por
mail e telefone (tendo sido sempre muito bem atendido), fiquei aliviado e muito
feliz quando logo em Janeiro de 2019 me garantiram que estava em fase de
construção e que iria ser colocado em funcionamento um novo site, o qual
passaria a disponibilizar a opção de pesquisa e reserva de viagens para todas
as ligações asseguradas por aquela empresa. Finalmente em Março de 2019 o site
ganhou vida e eu terei sido mesmo um dos seus primeiros utilizadores, o que fez
de mim um colaborador da Atlântico
Line no
decorrer da preparação da logística desta aventura pois, como visitava
diariamente o site e contatava regularmente o departamento de apoio ao cliente,
foi-me pedido que reportasse qualquer erro que encontrasse nos diversos acessos
que fazia, o que veio a acontecer.
A marcação das datas
Conforme decidido pelo
grupo, eu teria de escolher uma janela de tempo algures entre finais de Maio e
início de Julho, no máximo de 9 dias e aproveitando o máximo de feriados
possíveis. Com o site da Atlântico
Line a
funcionar em pleno já em Março, pude assim testar todas as datas. A ideia era a
de realizar pelo menos 1 etapa por cada ilha. A minha primeira opção, ao olhar
para o mapa, foi levar tudo de seguida: Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e
Faial, mas as ligações de navio não o permitiam, obrigando a uma disponibilidade
de mais de 10 dias, além de aumentar consideravelmente as despesas.
Aproveitei o meu
contato com um bttista (Pedro Medeiros) da ilha Terceira, o qual bombardeei de
questões durante diversos meses e foi ele me quem deu o conselho de alterar a
ordem das ligações, colocando a visita à Graciosa na frente da Terceira.
Aparentemente até pode parecer fácil, mas no início foi complicado descobrir a
ordem mais correta, principalmente para quem não conhece a região.
Por imposição das
datas e horários das ligações navais, essencialmente entre as ilhas Graciosa,
Terceira e São Jorge, a janela de tempo só poderia existir entre 19 e 29 de
Junho. As diferentes dimensões das 5 ilhas também ajudaram a delinear a
quantidade de percursos a realizar em cada uma delas. A Terceira e o Pico, pela
sua maior área, decidi-me a dedicar-lhes 2 etapas.
Mesmo sem nunca haver
visitado qualquer ilha do grupo central dos Açores, ousei desenhar pessoalmente
cada um dos percursos em função dos nossos objetivos: ligações entre portos
navais (ou aeroportos/aeródromos)/locais de pernoita/locais de interesse/locais
dotados de comida e bebida/lojas e oficinas de bicicletas, etc… depois disso
enviei-os à apreciação de cada contato bttista em cada uma das ilhas, que obtive através da União de Parceiros de btt Trilharistas dos Açores.
Como transportar tudo
o que precisaríamos
Baseado em
experiências anteriores, a opção para transportarmos as nossas coisas diárias
recaiu nas mochilas, mas os enormes desníveis altimétricos com distâncias a
rondar os 60km/90km diários e a escassez de treinos aliada à idade de alguns
membros do grupo, deixaram-me em suspense. A escassos dias de viajarmos para os
Açores arranjámos uma solução para as mochilas: iriam ser transportadas de
carro entre etapas ou ficariam num mesmo local sempre que as etapas tivessem a
partida/meta em comum. Há que nos adaptarmos às condições e nisso já somos
profissionais.
Para não ter-mos de
desmontar e montar as bicicletas de cada vez que mudava-mos de ilha, além de
mais barato, a melhor opção era o navio. Para isso, teríamos de enviar as
bicicletas em caixas de papelão ao invés dos nossos bike bags, o que nos
deixava um bocado nervosos. As caixas que levaríamos do continente seriam
abandonadas na ilha Graciosa e teríamos de arranjar outras caixas no Faial, para
voltarmos a embalar as bicicletas após terminarmos todas as etapas desta aventura.
A compra dos bilhetes
e a escolha das companhias de viagens
Com as diversas datas
definidas para cada uma das viagens, em Março comprei todos os bilhetes
necessários para 7 viagens/ligações.
Tivemos de ter em
conta que só as ilhas da Terceira e do Faial possuem pistas de aviação que
permitem a circulação de aviões de maior dimensão.
Comprámos bilhetes
para viajar Lisboa/Terceira na TAP e pagámos 55€ por cada caixa (de
bicicleta). Na ligação Terceira/Graciosa, beneficiámos do encaminhamento inter-ilhas totalmente gratuito (via aérea),
exclusivamente a cargo da SATA –
Azores Airline.
Na ligação
Graciosa/Terceira tivemos de optar por ligação aérea, porque 1 semana antes da
viagem (já comprada), a empresa de navios ligou a informar que a ligação seria
adiada por 24h, reembolsando-nos o pagamento, mas ainda assim tivemos de pagar
+30€ pela viagem em avião (duração de 30min. ao invés das 3h30 via marítima).
Nas ligações
Terceira/São Jorge/Pico/Faial optámos pela via marítima, que ficou
consideravelmente mais barata – a bicicleta pagou 5€ e viajou junto dos carros
sem necessidade de ser desmontada.
A importância (ou não)
das dimensões e pesos das caixas das bicicletas
Cada companhia aérea
parece ter parâmetros próprios relativamente às bagagens. Medidas diversas e
pesos, além dos traçados pelas companhias podem encarecer drasticamente os
preços ou, até mesmo impedir que viajem no mesmo voo do respetivo
passageiro/proprietário.
A experiência já nos
ensinou que independentemente da companhia aérea, as caixas poderão ter até
140cm de comprimento e 40cm de espessura, mas quanto à altura é imperativo não
irem além de 90cm, isto porque têm de passar deitadas em tapetes rolantes e túneis
metálicos com até 100cm. Já o peso é aconselhável não pesarem +22kg. Com estas
medidas/pesos, garantidamente não terão problemas em qualquer aeroporto ou
companhia europeia.
- Desafio Grupo Central dos Açores em
btt -
(clicar sobre os títulos das etapas para aceder aos tracks)
(clicar sobre os títulos das etapas para aceder aos tracks)
Os despertadores
tocaram às 05h30. Cinco dos seis participantes, a residir no concelho de
Abrantes, viajámos em 2 carros (1 de passageiros + 1 de mercadorias) até ao
aeroporto de Lisboa onde nos juntámos ao 6.º elemento, vindo propositadamente
da Alemanha para esta aventura. Chegámos cedo para evitar trânsito, descarregar
as caixas e parquear as viaturas com tempo.
Com o check-in feito
online antecipadamente só precisámos preocuparmos em despachar as 6 caixas
(bagagem fora de formato), o que fizemos mal nos foi possível e, logo aí, surgiu-nos o primeiro problema: o tamanho da minha caixa – por apenas 2cm (de
altura) não passava na máquina. Vai daí demos-lhe uns amassos valentes a toque
de cacetada e na 2.ª tentativa entrou sem dificuldades perante a surpresa e riso de todos os funcionários e passageiros ali presentes.
Após 02h30 o voo da
TAP aterrou na ilha Terceira, mas acabámos por ganhar 1h face à hora nos Açores. Aproveitámos para logo após aterrarmos e
recebermos as caixas (em perfeitas condições), as voltarmos a despachar para o
voo seguinte (encaminhamento gratuito pela SATA) para a ilha Graciosa,
deixando-nos libertos e com tempo para almoçarmos num restaurante próximo ao
aeroporto.
Às 16h30 estávamos
novamente no ar já a caminho do aeródromo de Santa Cruz. A viagem foi rápida
(30min.) e o levantamento das caixas também, as quais chegaram inteiras e foram
abertas com cuidado porque iríamos voltar a precisar delas para mais um voo. Pelas
18h00 já tínhamos as bicicletas montadas e estávamos preparados para fazer o
prólogo de ligação à casa que havíamos alugado (Moniz House). A simpatia e
hospitalidade destas gentes do grupo central açoriano foi o que mais me marcou
nesta aventura - sempre dispostos a ajudar no que for preciso, a título disso
um trilharista graciosense – Sandro Cunha, recém-conhecido ali mesmo à nossa
chegada ao aeródromo, de imediato se disponibilizou para transportar as nossas
caixas vazias até ao local de pernoita, substituindo-se ao nosso contato e
também trilharista Carlos Espínola.
Às 09h00 do feriado de
20 de Junho, já equipados a rigor, tomávamos café na praça central de Santa
Cruz da Graciosa quando nos apercebemos de 2 bttistas ali próximo. Eram o Rui
Teixeira e o Rui Silva de apenas 12 anos de idade, que sabendo da nossa
presença se propuseram a acompanhar-nos na etapa única para conhecermos os
trilhos da ilha.
O nosso grupo de aventureiros pedalou depois até ao Carapacho (mais uma alteração ao percurso planeado) onde almoçámos já perto das 14h30 por falta de opções, o que nos impediu de realizar um trilho em terra, supostamente interessante, ao redor da caldeira. Na segunda parte, já com o sol a brilhar e para desmoer, tivemos pela frente mais 15km de bons trilhos e paisagens onde destaco o Farol Restinga, a subida em estradão sobranceiro à Baía da Lagoa e a subida/descida com visita à surpreendente e misteriosa praça de touros da Graciosa, localizada no interior de uma caldeirinha em Santa Cruz e embrenhada em vegetação, que não nos foi fácil encontrar. O dia fechou com um animado jantar com o nosso anfitrião e membro da União de Trilharistas dos Açores – Ilha Graciosa, Carlos Espínola, após o que nos recebeu em sua casa e nos deu a conhecer/provar a Angelica (vinho licoroso tradicional nos Açores).
Ligação (noturna) Aeroporto/Casa de pernoita = 22,42km/506D+
A manhã livre foi
usada para descansarmos um pouco do reboliço dos primeiros 2 dias e ainda
tivemos tempo para fazer o nosso almoço, após o que voltámos a desmontar as
bicicletas e a embalá-las nas caixas já usadas em 2 voos anteriores.
Carlos Espinola e
Elvino Espínola compareceram em “nossa” casa (alugada) à hora marcada com duas
viaturas para recolherem os elementos do grupo e respetivas caixas com as bicicletas, transportando-nos até ao aeródromo da Graciosa para mais uma viagem
aérea até à ilha Terceira, onde aterrámos perto das 19h00, já com um atraso
considerável. Ao contrário do dia anterior, chuva foi zero.
De regresso às Lajes –
Terceira, já nos aguardava o Rui Oliveira, um dos nossos contatos nesta ilha,
que nos auxiliou no transporte das nossas mochilas. Novamente montámos as
nossas bicicletas que haviam viajado pela última vez nas caixas que já nos
acompanhavam desde o continente, cuja tarefa terminou já o sol se tinha posto,
muito por culpa do atraso do voo, o que nos obrigou a fazer a ligação à casa
que havíamos alugado, praticamente toda, em plena noite. No decorrer da montagem
tivemos o nosso primeiro problema mecânico, o Manuel Maia partiu um dos
parafusos fixadores da bomba de travão da frente, tendo sido substituído por abraçadeiras.
O ritmo deste prólogo
foi elevado, tendo as nossas luzes sido imprescindíveis, pois apesar do piso ser
totalmente asfaltado, rolámos diversos quilómetros em estradas rurais e deparámos-nos
com subidas dignas do nome. Terminámos o prólogo pelas 23h20 e jantámos leve em casa do nosso recente anfitrião, onde ficaram arrecadadas as
bicicletas. A restante distância de aproximadamente 800m até à “nossa” nova casa, fizemo-la a pé, onde já chegámos tardíssimo e sem possibilidade de apreciar a
bonita vista, indo dormir já após a 01h00.
Após uma noite rápida
e mal dormida devido ao pouco conforto dos colchões e ao som dos cagárros (ave
marinha), pelas 07h30 já fazíamos fila para utilizar a única casa de banho
existente na casa. Com o sol a brilhar neste sábado, pudémos finalmente
contemplar a fantástica vista dos ilhéus das Cabras, localizados mesmo defronte
à “nossa” casa típica. Seguiu-se uma caminhada de regresso a casa do Rui
Oliveira, para tomar o pequeno-almoço e buscar as bicicletas.
Já passavam das 09h15
quando iniciámos o nosso percurso, que logo começou com chuva fraca dando depois lugar a um radioso sol, que se manteve até final do dia. Dois quilómetros
adiante já esperava e desesperava o Carlos Reis, trilharista da ilha Terceira e
membro e mentor do projeto União de Trilharistas dos Açores, o qual foi uma
peça fundamental para apurar toda a logística necessária, uma vez que foi ele
quem me "apresentou" e encaminhou aos 4 dos 5 contatos-guia nas diversas ilhas
(exceção à ilha do Faial).
Com o problema
mecânico do Manuel Maia ainda por resolver, o Carlos Reis levou-nos a fazer o
primeiro desvio do dia, ao encarregar-se de nos guiar até às oficinas J.
Aurora - Equipamentos Industriais, Lda., do torneiro mecânico José Aurora – também ele
ciclista, o qual se prestou de imediato e sem reservas a fabricar um parafuso
compatível, não tendo aceite dinheiro em troca.
Já bastante atrasados
face ao planeado, o relógio já marcava perto de 10h30 quando, finalmente, chegámos à loja de bicicletas Total
Bike para
comprarmos botijas de CO2, uma vez que estão impedidas de viajar nos aviões mas
que dão sempre um jeitão nos nossos tubeless. Aqui, mais um ciclista se juntou
ao nosso grupo, o Luís Vasco, que também já desesperava pela nossa chegada.
Este amigo havíamos-lo conhecido somente no dia anterior na ilha Graciosa, o qual
meteu conversa connosco e, empolgado pela aventura, aproveitou a estadia na
Terceira para nos fazer companhia, apesar da bicicleta emprestada não ajudar à
tarefa.
Finalmente
(re)começámos a etapa nas ruas do cais de Angra do Heroísmo, onde por toda a
parte se viam indícios dos festejos alusivos às Festas Sanjoaninas. Daqui
subimos até à Reserva Florestal do Monte Brasil, onde desfrutámos dos primeiros
quilómetros do dia de excelentes trilhos de terra batida. Aqui visitámos a
recentemente inaugurada (dia anterior) estátua a El Rei D. Afonso VI. Daqui até
Santa Bárbara, onde parámos para almoçar ao km34, o percurso foi todo ele
asfaltado por falta de opções em piso diferente.
Após o revigorante
almoço o Carlos Reis teve de abandonar o grupo e os restantes 7 seguimos para
mais uma empreitada de 30km, recomeçando com um regresso à terra batida nas
encostas junto ao mar das Doze Ribeiras, onde tivemos o 2.º problema mecânico
do grupo, pois o Renato Valério golpeou o pneu traseiro junto ao aro, obrigando
à montagem de uma camara de ar, que veio a aguentar-se até final da aventura.
Os 10km seguintes
foram sempre a subir – e que subidas - até à Reserva Florestal da Mata da
Serreta, maioritariamente num fabuloso piso de terra vermelha, rodeado de
pastagens e densa floresta, afastando-nos do mar em direção ao interior da
ilha. Pelo caminho e devido a dificuldades mecânicas que não lhe permitiam
acompanhar o ritmo do grupo, “perdemos” o outsider Luís Vasco, que decidiu
atalhar até ao final da etapa.
Quanto ao nosso
original grupo, ainda nos passeámos a ziguezaguear pelo percurso planeado onde, mais uma vez, voltámos a ter problemas mecânicos. Desta vez coube ao Carlos
Navalho, que também golpeou a roda traseira junto ao aro, resolvendo-se com a
montagem de uma camara de ar. E no próprio dia em que as comprámos, gastámos
logo 2 das 6 bombas de CO2 que havíamos comprado.
Pelo meio, ainda fomos
forçados a alterar novamente o percurso quando um Cão de Fila de São Miguel nos
barrou a passagem num caminho agrícola próximo a uma propriedade (provavelmente
a do dono dele), desviando-nos de um trilho em terra batida para uma estrada
asfaltada. Para terminar, um trilho técnico e rochoso junto à costa e próximo
às piscinas dos Biscoitos.
Chegámos ao final da
etapa pelas 17h00 onde já nos esperavam as nossas pesadas mochilas
transportadas no carro pelo Rui Oliveira. A dormida havia sido marcada no
Parque de Campismo dos Biscoitos (péssima escolha), onde presumíamos existirem bungalows, mas que
na verdade esperavam-nos 3 tendas pequenas dotadas de colchões de casal. Para
ajudar à festa o local fica bastante isolado do centro da povoação. Felizmente
o bar de apoio e os funcionários eram porreiros e tinham umas tostas
fantásticas, no entanto fechou cedo e fomos obrigados a caminhar uns 2km para
irmos jantar. O dia acabou sobre um colchão insuflável e novamente ao som dos
cagárros, desta vez mais estridentes porque as paredes das tendas são
finíssimas...
Mais uma noite mal
dormida e com dores de costas! Felizmente o céu estava limpo e prometia um
excelente dia de pedaladas, apesar de nos esperar uma das etapas mais duras
desta nossa aventura açoriana. Depois de deixarmos as nossas mochilas nas
tendas, para posterior recolha e transporte até final da etapa pelo nosso amigo
Rui Oliveira, avançámos 1,5km para tomar o pequeno-almoço. Depois, para animar,
começámos com uma subida de 10km, que nos levou desde os 12m aos 542m de
altitude, por paisagens simplesmente idílicas e inspiradoras, quase sempre em
terra batida.
Ao km35 estávamos
quase a meio do percurso planeado de 83,77km, cheios de fome e de regresso à
zona costeira, mas apesar de estarmos na Estrada Regional junto a povoações,
talvez por ser domingo não havia local próximo onde comer, o que nos obrigou a
um desvio de 5km ao longo da estrada principal até Vila Nova, passando por
localidades em festa e até por uma procissão. Enquanto enchíamos o bucho numa
pastelaria, verificámos que o nosso desvio nos havia levado novamente ao track planeado, atalhando-lhe cerca de 22km. Esta realidade levou-nos a ponderar não voltar
atrás e seguirmos o track para terminarmos mais cedo a etapa e ter-mos tempo
para lavar roupa e pô-la a secar, além de aproveitarmos o facto de no dia
seguinte ser feriado em Angra do Heroísmo e esta noite haver festa rija de
Sanjoaninas. Não podíamos desperdiçar a oportunidade de, estando na Terceira,
não assistir à grande noite de desfile das afamadas e tradicionais marchas Sanjoaninas.
Assim, mantivemos o
atalho e fizemos os restantes 20km que se revelaram de relativa facilidade,
passando junto ao perímetro do aeroporto das Lajes e depois pelo passeio
marítimo da Praia da Vitória, num percurso maioritariamente urbano e asfaltado.
Conforme planeado, chegámos cedo à casa alugada no Cabo da Praia, onde já se
encontravam as nossas mochilas com os nossos haveres. Tivemos tempo para
despachar as tarefas planeadas, uma vez que a moradia possuía boas condições
para tal. Mais tarde, chamámos um táxi de 9 lugares e fomos jantar a Angra do
Heroísmo e assistir às marchas Sanjoaninas, onde nos demos ao luxo de prolongar
a noite um pouco mais, já que no dia seguinte só teríamos pedalada ao final do
dia.
24JUN: Mini-prólogo São Jorge – Velas (450m)
Finalmente desfrutámos
de uns aposentos consideravelmente confortáveis face às noites anteriores.
Também pudemos dormir até mais tarde porque a ligação de ferry só teria início
às 14h30 e as bicicletas iriam ser despachadas sem necessidade de desmontar. O
almoço foi no restaurante do cais. A ligação marítima Terceira/São Jorge demorou
cerca de 7h e deu para descansar, desfrutar das paisagens e até jantar a bordo,
mas infelizmente não avistámos baleias nem golfinhos.
À nossa chegada ao
cais das Velas já nos aguardava o nosso contato local, o Paulo Silveira. O
representante na ilha de São Jorge da União de Trilharistas dos Açores. Como a
distância ao local de hospedagem era curta, carregámos somente pela segunda vez
as nossas mochilas às costas e encaminhámos-nos para a dormida, mas ainda
tivemos tempo para um breve passeio apeado pelo centro da vila.
A logística previa apenas uma etapa para esta ilha, em cuja estada se
resumia a 24h. Para podermos percorrer toda a ilha precisaríamos de pelo menos
2 dias/etapas, mas não tínhamos tempo nem planeamento para tal.
O dia adivinhava-se duro, pois a etapa prometia 79,62km com um
desnível positivo de 2.492m, no entanto acabou por sofrer dilatações. Conforme
combinado, às 08h30 já o nosso contato local, Paulo Silveira, nos aguardava à
porta da Hospedaria Austrália. Com uns minutos de atraso juntamos-mos a ele, depois de deixar as pesadas mochilas ao cuidado da proprietária, que acedeu
guardá-las, uma vez que terminaríamos o percurso ali.
Os primeiros 12km foram feitos a subir e praticamente sempre em
asfalto, a que se seguiu uma visita à Ponta dos Rosais, já em terra batida. Dali, seguimos em direção à Reserva Florestal das Sete Fontes, onde visitámos o miradouro
ali próximo, obrigando a um pequeno desvio. Do km32 ao km48 subimos desde os
280m aos 1.014m de altitudem cujas subidas íngremes e intermináveis nos levaram
de um sol agradável a um frio e encoberto nevoeiro, sempre em caminhos de
terra.
Conforme planeado, ao km60 fizemos uma paragem num café no Norte
Pequeno para comer umas sandes previamente reservadas. Os restantes 30km não se
previam complicados e levaram-nos do centro da ilha novamente até à costa, por
trilhos prazenteiros e em parte asfaltados, onde aqui e ali nos pudemos regalar
com algumas zonas técnicas em rocha e caminhos de terra bastante rápidos.
Regressámos a Velas ainda o sol brilhava forte. Como não tínhamos onde
tomar banho e a ligação S. Jorge/Pico por ferry só iria acontecer às 21h20,
optámos por ir recolher as mochilas à hospedaria e aproveitar as piscinas
naturais de Velas para o nosso primeiro mergulho no mar e um duche nas
instalações de apoio, seguindo depois a pedalar alegremente de mochila às
costas para um restaurante no centro da vila.
25JUN: Prólogo Noturno Pico - São
Roque/São Miguel Arcanjo
Ligação (noturna)
Desembarcámos em São Roque do Pico às 22h10 após 30min. de viagem,
onde mais uma vez nos esperava um nosso contato. Desta feita o Rui Maciel,
também ele um membro da União de Trilharistas dos Açores, representante da ilha
do Pico, que se fazia acompanhar por mais um amigo, estando apetrechados e
dispostos a transportar todo o grupo, bicicletas e mochilas desde o cais até à
Sara Village Sportfish, onde havíamos reservado estadia, mas declinámos tão
simpática ajuda e aceitámos somente a ajuda do Rui para nos transportar as
mochilas.
Mais uma vez demos utilidade às luzes e apesar de já havermos pedalado
quase 93km ao longo do dia, adicionámos mais 3km noturnos em asfalto, onde
atalhámos o já curto percurso planeado por conselho do nosso anfitrião, com
vista a fazermos o check-in o mais rápido possível para libertar o proprietário
que nos esperava no local. Terminámos o longo dia a saborear uma bebida num bar
do cais, acompanhados pelo nosso anfitrião.
Às 08h45 reencontrámos o Rui Maciel numa pastelaria junto ao quartel
de bombeiros local, onde nos esperava acompanhado de outro bttista local, o
Júlio Aroeira, para se juntarem ao nosso grupo para a primeira etapa prevista
para a exigente ilha do Pico. Já com o pequeno-almoço tomado, fizemos-nos à
exigente e quase contínua subida de quase 28km de extensão que nos levou desde
os 10m aos 935m de altitude por estradas rurais, ora asfaltadas ora em pisos de
terra, onde de vez em quando nos cruzámos com algumas manadas de vacas.
O dia estava fresco e o sol envergonhado, mas a extensa subida pôs-nos
a suar num instante! Sensivelmente a
partir dos 800m de altitude o nevoeiro começou a adensar-se intensamente, tanto
que a visibilidade não ia além dos 10m, por isso achámos por bem ligar as luzes
traseiras, pois apesar de ser terra batida ainda nos cruzámos com alguns carros
e muitas pick up’s . Quem tinha capas ou manguitos aproveitou a paragem no local
mais elevado do dia para se equipar a rigor. Segundo os nossos “guias” a vista
a partir dali é simplesmente fenomenal, mas devido ao nevoeiro não o pudemos confirmar, por
isso lá seguimos para uma longa descida, quase sempre em terra batida.
De regresso à zona costeira e ao asfaltado, fizemos uma pequena
alteração para o miradouro da Terra Alta, que se localiza junto à Estrada
Regional, mas que paralelamente tem um pequeno single track interior, de uma
beleza ímpar. Dali seguimos em direção à Ribeirinha, metendo-nos por uns
trilhos bem selvagens, exigentes tecnicamente, de terra e rochas entre campos
de cultivo, terminando junto ao mar por um single track pouco ciclável e sinalizado para caminhadas.
Um furo numa das rodas do Rui atrasou-nos os planos para o almoço
previsto em Manhenha, porém tivemos de continuar a fazer sobe e desces constantes,
exigentes e já com bastante calor, porque o restaurante planeado se encontrava
encerrado. Tivemos de pedalar mais 5km até à Calheta de Nesquim, onde
encontrámos um simples mas bonito restaurante situado à beira-mar.
Após o almoço o Rui teve de nos abandonar e seguimos os 7 em direção a
São João. O percurso vespertino foi todo ele junto à zona costeira e cerca de
90% em asfalto. Em Santa Bárbara deparei-me com a subida mais íngreme que
alguma vez havia subido. Apesar de asfaltada, a inclinação oscila entre os 18% e
os 22% numa extensão de quase 2km, esta estrada secundária que passa entre
casarios e onde conseguimos arrancar diversas salvas de palmas a alguns
moradores.
Um estradão em terra batida levou-nos até à entrada das Lajes do Pico
e esta foi a derradeira vez que cumprimos com o track, pois apercebemos-mos de
que o planeado não nos trazia qualquer benefício, somente saía da estrada
principal de vez em quando para apanharmos estradas secundárias paralelas,
igualmente asfaltadas mas cujas regulares descidas/subidas só acrescentavam
cansaço físico e mental. Finalmente chegámos ao final da etapa, na Companhia de
Baixo (S. João), onde fomos surpreendidos pelo tamanho e condições da casa
(vivenda) que tínhamos alugado. Era enorme e até garagem tinha para guardarmos
as biclas. Passados uns minutos, o Rui voltou a juntar-se a nós, desta feita de
carrinha trazendo os nossos sacos e levando de volta o Júlio. Depois de
colocarmos as 2 máquinas de lavar roupa a funcionar, fizemos uma caminhada de
1km até uma pizaria local para jantarmos.
O dia voltou a amanhecer com um sol fantástico. A nível geral, ninguém
se queixou das costas nem de ter dormido mal. Depois do pequeno-almoço tomado,
às 08h30, o Rui Maciel lá estava novamente com a carrinha para recolher as
nossas mochilas e aliviar a nossa loucura. Esperava-nos a etapa mais curta de
todas, porém a que tinha a maior oscilação de altitudes entre todas.
Hoje, o grupo de 6 pedalava sem guias. A montanha do Pico localizava-se
imponente ali mesmo por detrás da “nossa mansão”, elevando-se nos seus 2.351
metros de altitude e pela primeira vez desde que chegáramos às ilhas,
conseguíamos vê-la até ao topo sem nenhum nevoeiro a rodeá-la. O percurso
encaminhou-nos inicialmente para uma estrada secundária asfaltada junto ao mar,
onde tivemos direito a uma pequena extensão em terra batida. Em São Caetano
começou aquela que seria a subida mais longa desta nossa aventura.
A subida começou de imediato com uma inclinação a rondar os 18%, em
asfalto, ziguezagueando por ali acima. Olhando lá para cima não se calculava
qualquer forma de lá chegar de tão inclinado que era. A pouco e o grupo foi-se
partindo em diversos andamentos e eu fiquei a segurar a cauda do pelotão, cá
bem para trás, controlando o esforço e apreciando a paisagem. A cassete estava
no último prato (50T) da relação 1/11x50 da transmissão Sram Eagle NX 12v que
optei por estrear nos Açores. As opiniões, sobretudo de utilizadores
brasileiros, que havia encontrado na net relativamente a este kit tinha-me
deixado reticente quanto à compra, ainda assim fico feliz por me haver decidido
favoravelmente, apesar de ser a relação de 12v mais barata do mercado é
bastante fiável, fácil de afinar e certinha no escalonamento.
O piso foi-se alternando entre o asfalto e a terra batida. Nas zonas
asfaltadas, de vez em quando lá se cruzava um carro de turistas connosco que
nos cumprimentavam energicamente. Nas zonas de terra íamos avançando rodeados
de vacas espalhadas por todas aquelas encostas e, por vezes, até as
encontrávamos em pleno caminho. Aqui e ali fui parando para tirar umas fotos e
fazer umas filmagens. Quando dei por mim, olhei lá para a frente e para cima e
já não consegui avistar o elemento do grupo que seguia à minha frente. Acho que
pedalei uns bons 45 min. a solo, a maioria dos quais já na parte final da
subida, a qual se faz pela estrada asfaltada de acesso ao topo, mas ainda assim
só me cruzei com 3 carros.
À medida que fui subido, a temperatura foi baixando. O sol brilhante
deu lugar a um enevoado e alguns pingos de água. Junto à placa de informação da
montanha do Pico aproveitei para parar, comer qualquer coisa e recuperar o
fôlego. Dali até à Casa da Montanha (CM) foi cerca de 1km. A CM é um apoio
logístico aos aventureiros e é ali que se registam quem pretende fazer a subida
(restante) ao cume da montanha. À esquerda e junto à CM existe um enorme parque
de estacionamento, porque a passagem a veículos encontra-se vedada para o topo,
só sendo permitida a veículos autorizados, no entanto, de bicicleta não há
barreiras e lá continuei, agora por um caminho de rocha vulcânica. Aos 23km
havia atingido a altitude máxima planeada para esta etapa e ilha, os 1.261
metros.
Após passar a CM e imediatamente antes de iniciar a descida voltei a
integrar o grupo. O Manuel e Renato esperavam-me no trilho, o Anacleto e o
Vítor haviam ido visitar a CM e nem se aperceberam de eu os haver ultrapassado.
Agora já com o grupo todo unido, lá seguimos montanha abaixo, com algum vento e
umas pingas de água à mistura, mas umas centenas de metros adiante fomos
obrigados a parar para abrirmos uma portada de uma vedação, para lá da qual
encontrámos uma manada de vacas dispersas pelo campo e, algumas delas, bem no
centro do nosso caminho, mas ordeiramente e respeitando o espaço delas, lá
passamos sem dificuldade, ainda que a maioria de nós não tenha conseguido
evitar pisar bostas, que no decorrer da descida lá nos foram salpicando
equipamento, mãos, cara e tudo o resto.
Ao km28, após cruzarmos a Estrada Longitudinal (ER3-2), o track
planeado que dali em diante era sob a forma de single track, por sinal bem
desafiador, veio a revelar-se o maior erro da nossa logística na preparação dos
percursos. A pouco e pouco o trilho foi-se “apagando” e num repente vimos-mos
no meio de um pasto sem possibilidades de pedalar e o suposto trilho não era
mais que o leito de uma ribeira seca e cheia de gigantescas pedras. Voltar para
trás não parecia opção, já que a inclinação era considerável e ainda tínhamos
convicção de que o caminho melhorasse, o que acabou por não acontecer. Fizemos
mais de 1km com as bicicletas à mão ou às costas, saltando vedações e muros até
que finalmente conseguimos chegar a estrada ciclável, um enorme estradão de
gravilha preta.
A aventura lá regressou à suposta normalidade e as descidas
continuaram a suceder-se. O céu, que se mantivera cinzento desde meio da manhã,
voltou a limpar e deu lugar ao sol, como que a brindar-nos. Os estradões
sucediam-se, primeiro terra preta e depois terra vermelha, mas sempre sempre a
descer, serpenteando por entre muros de rochas vulcânicas, por cima dos quais já
conseguíamos avistar o mar e a bonita ilha do Faial, nosso próximo objetivo.
Na parte final da descida de acesso à zona costeira rolámos em
asfalto, mas na nossa “visita” e passagem pela zona de vinhas designada por lajido
criação velha (área protegida), regressámos ao piso de terra vermelha,
serpenteando pela bonita paisagem de estradões ladeados de muros de rocha e
videiras, com o mar ali ao lado sob um sol magnífico e uma suave brisa
marítima.
Ao contrário do previsto e mesmo com as contrariedades, terminámos a
etapa 1h30 mais cedo, ainda antes das 14h00. A fome já apertava tremendamente. Na
marginal calcetada da Madalena encontrámos um restaurante que nos atraiu pelo
aspeto e ambiente. Bem localizado, preços em conta e serviço self-service. Para
evitarmos a deslocação e chegada ao apartamento no Faial já noite dentro,
conforme antes planeado, em concordância geral decidimos fazer uns contatos no
sentido de conseguirmos antecipar a viagem de navio umas horas, o que veio a acontecer com
um telefonema. Ligámos ao nosso hospitaleiro amigo, Rui Maciel, que amavelmente
alterou os seus planos para se poder encontrar connosco no cais da Madalena,
trazendo-nos os mochilões.
Após uma viagem de 30 minutos de navio, entre a Madalena (Pico) e a
Horta (Faial), ainda com o sol brilhando, pedalámos o último 1,5km do dia para
alcançarmos o apartamento que seria o nosso último Quartel-General (QG) desta
aventura. Apesar de espaçoso, apenas 1 quarto, mas 1 enorme sala (salão) com kitchenette,
apoiado por 2 casas de banho. Bem localizado a 5 min. a pé da marina e do Peter’s
Café. À noite aproveitámos para nos abastecermos de mantimentos para os 3 dias
seguintes e conhecer um pouco da cidade, após o que fomos jantar a um dos restaurantes
mais típico da Horta – Restaurante
Atlético.
Combinado de véspera com o nosso anfitrião da ilha do Faial, Inácio
Russo, às 08h45 reunimos o grupo de 7 bttistas nas traseiras do nosso novo QG, para
darmos início ao nosso derradeiro percurso nas ilhas do grupo central dos
Açores. A ementa previa 83,26km, regados com 2.379 metros de acumulado mas, acabaria
por não ser bem assim...
Os nossos primeiros 9km foram em asfalto, fáceis e descontraídos e
serviram para nos conhecermos melhor (grupo e anfitrião), enquanto íamos apreciando
a beleza das paisagens que nos rodeavam, tendo a primeira paragem sido na Moto
Horta, mais um dos nossos imprescindíveis colaboradores, onde pudemos juntar as
caixas indispensáveis que nos serviriam de transporte às nossas bicicletas no
voo de volta a Lisboa.
A partir do 9,5km começámos verdadeiramente a subir, até ao perímetro
da cratera do vulcão faialense, na Reserva Natural da Caldeira do Faial, localizado
ao km20 do nosso percurso onde atingimos a altitude máxima do dia: 991 metros.
Este traçado foi quase todo ele em estradão, serpenteando por entre florestas e
campos agrícolas de pastoreio. À medida que fomos subindo o tempo foi
alterando. Ora havia sol, ora chovia, ora fazia vento. A temperatura também
oscilava consideravelmente, levando-nos a vestir/despir constantemente as capas
de chuva e restantes agasalhos.
Ao km30 fizemos a primeira alteração ao track planeado, sob proposta
do nosso anfitrião, saindo da rota para percorrer e testar uns desafiantes
singles no Parque Florestal do Capelo, onde nos deliciámos (à exceção do Carlos
Navalho) ao longo de 3km com trilhos técnicos e desafiantes no interior da
floresta.
À medida que o dia ia passando, o tempo ia melhorando consideravelmente.
Ao km34 e após decisão unânime, optámos por encurtar o nosso percurso planeado,
uma vez que o cansaço acumulado nas pernas já era considerável ao fim de tantos
dias de pedaladas. Simultaneamente teríamos a possibilidade de terminarmos mais
cedo para depois desfrutarmos de alguns momentos de descanso e lazer. Assim, os
restantes 31 quilómetros desenrolaram-se em asfalto, pela Estrada Regional (ER),
o que de certa forma acabou por ser a decisão mais inteligente, uma vez que
depois tive o cuidado de colocar lado-a-lado os percursos: planeado vs. realizado,
sendo que o planeado seguia cruzando-se sucessivamente com a ER, também em
asfalto e calçada, aumentando consideravelmente o acumulado e quilómetros sem
acrescer beleza ou terra àquele que fizemos.
Pelo meio fizemos a planeada paragem para almoço, na Praia do Norte,
após o que se seguiram cerca de 30km quase sempre a descer, em asfalto, num
ritmo elevado e em permanente competição amigável entre os elementos do grupo. Independentemente
de rolarmos em asfalto, as paisagens foram merecedoras da nossa passagem, quase
sempre com o mar à vista, a escassas centenas de metros. Pelo meio despedimo-nos
do nosso anfitrião que aproveitou a proximidade a casa para terminar a sua volta.
O regresso à Horta foi apoteótico, com passagem por diversas ruas da cidade e
algumas alterações finais ao trajeto devido a enganos de leitura gps de última
hora.
Chegámos à Horta ainda o sol brilhava. A alteração ao percurso, para
facilitar na sua altimetria, havia sido uma boa opção, pois o percurso original
não acrescentaria trilhos deslumbrantes nem zonas fantásticas, somente dureza
com constantes sobe-desce, além de que assim tivemos oportunidade de dedicar o
final do dia para conhecer melhor a cidade.
O último dia da nossa estadia no Grupo Central dos Açores foi dedicado
quase em exclusivo a arrumarmos todas as nossas coisas e embalarmos as bicicletas
devidamente. A meio da tarde e mais uma vez, o nosso guia juntou-se a nós,
desta vez para carregarmos as caixas com as bicicletas e nos transportar até ao
aeroporto para rumarmos a casa, onde nos despedimos de mais uma aventura épica
e inesquecível.
(caso não seja possível visualização, clicar nos respetivos links de "resumo")
Resumo Graciosa (prólogo + 1 estágio)
Resumo Terceira (prólogo + 2 estágios)
Créditos à reportagem
Textos, imagens e vídeos: João Valério
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