sábado, 29 de junho de 2019

Participação da equipa (Açores)

Representação a cargo de:
513km (15.703D+) - João Valério


PREFÁCIO

 Antes de mais esclareço que esta aventura não teve qualquer tipo de apoios financeiros nem patrocínios, somente entre ajudas gratuitas.

AÇÃO IMPORTANTE!
Se não tens intenção de planear umas pedaladas no Grupo Central dos Açores, faz roll-up e “atalha” diretamente para a 1.ª etapa desta aventura.

Os agradecimentos
Por norma costumam vir no final, mas neste caso vou fazer uma excepção, porque sem o apoio dado pelos adiante nomeados, esta nossa aventura teria sido muito mais difícil de planear e certamente bem mais cara e dura. Graças a eles, este desafio resultou muito mais prazenteiro e descomplicado. Obrigado a todos vós:
- União de Parceiros BTT dos Trilharistas dos Açores;
- Carlos Reis (representante Trilhos de BTT da ilha Terceira);
- Carlos Espínola (representante Trilhos de BTT da ilha Graciosa);
- Sandro Cunha (membro Trilhos de BTT da ilha Graciosa);
- Paulo Silveira (representante Trilhos de BTT da ilha de São Jorge);
- Rui Oliveira (ilha Terceira);
- Rui Maciel (representante Trilhos de BTT da ilha do Pico);
- Inácio Russo (membro Assoc. Ciclismo dos Açores – ilha do Faial);
- Loja e oficina de bicicletas Ultra Pedal (Tomar);
- J. Aurora, Equipamentos Industriais (Angra do Heroísmo, ilha Terceira);
- Loja e oficina de motos e bicicletas Moto Horta (Flamengos – Horta, ilha do Faial).
 


Os participantes
Nesta aventura de 2019 o nosso grupo foi composto pelos 6 convivas: João Valério (Clube de BTT Zona 55), Renato Valério (A.C. BTT Fôjo), Carlos Navalho (A.C. BTT Fôjo/ Schwarzwaldvereine MTB – Floresta Negra), Anacleto António (A.C. BTT Fôjo), Vítor Campos (Templários BTT) e Manuel Maia (A.C. BTT Fôjo).


A escolha do local da aventura
Conforme já é normal, o planeamento fez-se ao longo de 1 ano e começou logo após havermos terminado a aventura de 2018 (Travessia da Floresta Negra – Alemanha). O local escolhido recaiu sobre os Açores, mas como os Açores têm 9 ilhas, dispersas por 3 grupos, por motivos de logística e disponibilidade de tempo dos participantes, ficámos condicionados às 5 ilhas do grupo central, o que mesmo assim ainda foi um osso bem duro de roer, que me deixou agarrado ao computador muitas noites e madrugadas até que todas as peças encaixassem perfeitamente.


A escolha do tipo de transporte até ao destino
 Inicialmente preocupei-me apenas em conseguir arranjar as ligações necessárias entre todas as ilhas, deixando os percursos para mais tarde. As ligações entre as diversas ilhas podem ser feitas de avião ou de navio (assegurado exclusivamente pela Atlântico Line). De avião, além de ser uma opção mais cara do que o navio, tem a dificuldade acrescida das bicicletas terem de seguir desmontadas e encaixotadas/emaladas, porém, os voos têm maior frequência entre as ilhas mais afastadas do grupo central que eu pretendia ligar (Terceira/Graciosa/São Jorge).

Como todos sabem, para se garantirem bons preços na compra de bilhetes de avião, o segredo é comprarmos com a maior antecedência possível, o que, neste caso, foi uma terrível dor de cabeça, porque só os pude comprar após conhecer o plano de viagens da Atlântico Line para o ano de 2019, o que só veio a acontecer em meados de Março. Ainda em 2018 imprimi os pdf’s publicados pela Atlântico Line no seu antigo site e estudei-os a bom rigor, porém e apesar dos planeamentos anuais serem mais ou menos parecidos, não havia forma de garantir datas concretas das viagens, em especial a da linha amarela (ligação quase completa entre todas as ilhas) que era a que mais me preocupava.

Após diversos contatos e insistências com a Atlântico Line, por mail e telefone (tendo sido sempre muito bem atendido), fiquei aliviado e muito feliz quando logo em Janeiro de 2019 me garantiram que estava em fase de construção e que iria ser colocado em funcionamento um novo site, o qual passaria a disponibilizar a opção de pesquisa e reserva de viagens para todas as ligações asseguradas por aquela empresa. Finalmente em Março de 2019 o site ganhou vida e eu terei sido mesmo um dos seus primeiros utilizadores, o que fez de mim um colaborador da Atlântico Line no decorrer da preparação da logística desta aventura pois, como visitava diariamente o site e contatava regularmente o departamento de apoio ao cliente, foi-me pedido que reportasse qualquer erro que encontrasse nos diversos acessos que fazia, o que veio a acontecer.


A marcação das datas
Conforme decidido pelo grupo, eu teria de escolher uma janela de tempo algures entre finais de Maio e início de Julho, no máximo de 9 dias e aproveitando o máximo de feriados possíveis. Com o site da Atlântico Line a funcionar em pleno já em Março, pude assim testar todas as datas. A ideia era a de realizar pelo menos 1 etapa por cada ilha. A minha primeira opção, ao olhar para o mapa, foi levar tudo de seguida: Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial, mas as ligações de navio não o permitiam, obrigando a uma disponibilidade de mais de 10 dias, além de aumentar consideravelmente as despesas.

Aproveitei o meu contato com um bttista (Pedro Medeiros) da ilha Terceira, o qual bombardeei de questões durante diversos meses e foi ele me quem deu o conselho de alterar a ordem das ligações, colocando a visita à Graciosa na frente da Terceira. Aparentemente até pode parecer fácil, mas no início foi complicado descobrir a ordem mais correta, principalmente para quem não conhece a região.

Por imposição das datas e horários das ligações navais, essencialmente entre as ilhas Graciosa, Terceira e São Jorge, a janela de tempo só poderia existir entre 19 e 29 de Junho. As diferentes dimensões das 5 ilhas também ajudaram a delinear a quantidade de percursos a realizar em cada uma delas. A Terceira e o Pico, pela sua maior área, decidi-me a dedicar-lhes 2 etapas.

Mesmo sem nunca haver visitado qualquer ilha do grupo central dos Açores, ousei desenhar pessoalmente cada um dos percursos em função dos nossos objetivos: ligações entre portos navais (ou aeroportos/aeródromos)/locais de pernoita/locais de interesse/locais dotados de comida e bebida/lojas e oficinas de bicicletas, etc… depois disso enviei-os à apreciação de cada contato bttista em cada uma das ilhas, que obtive através da União de Parceiros de btt Trilharistas dos Açores.


Como transportar tudo o que precisaríamos
Baseado em experiências anteriores, a opção para transportarmos as nossas coisas diárias recaiu nas mochilas, mas os enormes desníveis altimétricos com distâncias a rondar os 60km/90km diários e a escassez de treinos aliada à idade de alguns membros do grupo, deixaram-me em suspense. A escassos dias de viajarmos para os Açores arranjámos uma solução para as mochilas: iriam ser transportadas de carro entre etapas ou ficariam num mesmo local sempre que as etapas tivessem a partida/meta em comum. Há que nos adaptarmos às condições e nisso já somos profissionais.

Para não ter-mos de desmontar e montar as bicicletas de cada vez que mudava-mos de ilha, além de mais barato, a melhor opção era o navio. Para isso, teríamos de enviar as bicicletas em caixas de papelão ao invés dos nossos bike bags, o que nos deixava um bocado nervosos. As caixas que levaríamos do continente seriam abandonadas na ilha Graciosa e teríamos de arranjar outras caixas no Faial, para voltarmos a embalar as bicicletas após terminarmos todas as etapas desta aventura.


A compra dos bilhetes e a escolha das companhias de viagens
Com as diversas datas definidas para cada uma das viagens, em Março comprei todos os bilhetes necessários para 7 viagens/ligações.
Tivemos de ter em conta que só as ilhas da Terceira e do Faial possuem pistas de aviação que permitem a circulação de aviões de maior dimensão.
Comprámos bilhetes para viajar Lisboa/Terceira na TAP e pagámos 55€ por cada caixa (de bicicleta). Na ligação Terceira/Graciosa, beneficiámos do encaminhamento inter-ilhas totalmente gratuito (via aérea), exclusivamente a cargo da SATA – Azores Airline.
Na ligação Graciosa/Terceira tivemos de optar por ligação aérea, porque 1 semana antes da viagem (já comprada), a empresa de navios ligou a informar que a ligação seria adiada por 24h, reembolsando-nos o pagamento, mas ainda assim tivemos de pagar +30€ pela viagem em avião (duração de 30min. ao invés das 3h30 via marítima).
Nas ligações Terceira/São Jorge/Pico/Faial optámos pela via marítima, que ficou consideravelmente mais barata – a bicicleta pagou 5€ e viajou junto dos carros sem necessidade de ser desmontada.

A importância (ou não) das dimensões e pesos das caixas das bicicletas
Cada companhia aérea parece ter parâmetros próprios relativamente às bagagens. Medidas diversas e pesos, além dos traçados pelas companhias podem encarecer drasticamente os preços ou, até mesmo impedir que viajem no mesmo voo do respetivo passageiro/proprietário.
A experiência já nos ensinou que independentemente da companhia aérea, as caixas poderão ter até 140cm de comprimento e 40cm de espessura, mas quanto à altura é imperativo não irem além de 90cm, isto porque têm de passar deitadas em tapetes rolantes e túneis metálicos com até 100cm. Já o peso é aconselhável não pesarem +22kg. Com estas medidas/pesos, garantidamente não terão problemas em qualquer aeroporto ou companhia europeia.


- Desafio Grupo Central dos Açores em btt -
(clicar sobre os títulos das etapas para aceder aos tracks)

Os despertadores tocaram às 05h30. Cinco dos seis participantes, a residir no concelho de Abrantes, viajámos em 2 carros (1 de passageiros + 1 de mercadorias) até ao aeroporto de Lisboa onde nos juntámos ao 6.º elemento, vindo propositadamente da Alemanha para esta aventura. Chegámos cedo para evitar trânsito, descarregar as caixas e parquear as viaturas com tempo.

Com o check-in feito online antecipadamente só precisámos preocuparmos em despachar as 6 caixas (bagagem fora de formato), o que fizemos mal nos foi possível e, logo aí, surgiu-nos o primeiro problema: o tamanho da minha caixa – por apenas 2cm (de altura) não passava na máquina. Vai daí demos-lhe uns amassos valentes a toque de cacetada e na 2.ª tentativa entrou sem dificuldades perante a surpresa e riso de todos os funcionários e passageiros ali presentes.

Após 02h30 o voo da TAP aterrou na ilha Terceira, mas acabámos por ganhar 1h face à hora nos Açores. Aproveitámos para logo após aterrarmos e recebermos as caixas (em perfeitas condições), as voltarmos a despachar para o voo seguinte (encaminhamento gratuito pela SATA) para a ilha Graciosa, deixando-nos libertos e com tempo para almoçarmos num restaurante próximo ao aeroporto.
 







19Jun: Prólogo Graciosa
(Ligação Aeródromo/Casa de pernoita = 7,84km/84D+)

Às 16h30 estávamos novamente no ar já a caminho do aeródromo de Santa Cruz. A viagem foi rápida (30min.) e o levantamento das caixas também, as quais chegaram inteiras e foram abertas com cuidado porque iríamos voltar a precisar delas para mais um voo. Pelas 18h00 já tínhamos as bicicletas montadas e estávamos preparados para fazer o prólogo de ligação à casa que havíamos alugado (Moniz House). A simpatia e hospitalidade destas gentes do grupo central açoriano foi o que mais me marcou nesta aventura - sempre dispostos a ajudar no que for preciso, a título disso um trilharista graciosense – Sandro Cunha, recém-conhecido ali mesmo à nossa chegada ao aeródromo, de imediato se disponibilizou para transportar as nossas caixas vazias até ao local de pernoita, substituindo-se ao nosso contato e também trilharista Carlos Espínola.
 


Às 09h00 do feriado de 20 de Junho, já equipados a rigor, tomávamos café na praça central de Santa Cruz da Graciosa quando nos apercebemos de 2 bttistas ali próximo. Eram o Rui Teixeira e o Rui Silva de apenas 12 anos de idade, que sabendo da nossa presença se propuseram a acompanhar-nos na etapa única para conhecermos os trilhos da ilha.

O percurso planeado de 44,89km foi alvo de alterações por indicação do R. Teixeira, de forma a fazermos menos asfalto e a conhecer alguns ex-libris não previstos, resultando em 57,43km, mas valeu a pena! O dia amanheceu solarengo mas a meio da manhã já chovia. Na 1.ª parte do dia, quase sempre a chover intensamente e em pavimento asfaltado, pedalámos junto à costa onde visitámos faróis, moinhos típicos e cais de pescadores, entrando depois no interior para uma obrigatória visita à caldeira e furna do enxofre, após o que os nossos novos amigos se separaram de nós.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O nosso grupo de aventureiros pedalou depois até ao Carapacho (mais uma alteração ao percurso planeado) onde almoçámos já perto das 14h30 por falta de opções, o que nos impediu de realizar um trilho em terra, supostamente interessante, ao redor da caldeira. Na segunda parte, já com o sol a brilhar e para desmoer, tivemos pela frente mais 15km de bons trilhos e paisagens onde destaco o Farol Restinga, a subida em estradão sobranceiro à Baía da Lagoa e a subida/descida com visita à surpreendente e misteriosa praça de touros da Graciosa, localizada no interior de uma caldeirinha em Santa Cruz e embrenhada em vegetação, que não nos foi fácil encontrar. O dia fechou com um animado jantar com o nosso anfitrião e membro da União de Trilharistas dos Açores – Ilha Graciosa, Carlos Espínola, após o que nos recebeu em sua casa e nos deu a conhecer/provar a Angelica (vinho licoroso tradicional nos Açores).


Ligação (noturna) Aeroporto/Casa de pernoita = 22,42km/506D+

A manhã livre foi usada para descansarmos um pouco do reboliço dos primeiros 2 dias e ainda tivemos tempo para fazer o nosso almoço, após o que voltámos a desmontar as bicicletas e a embalá-las nas caixas já usadas em 2 voos anteriores.

Carlos Espinola e Elvino Espínola compareceram em “nossa” casa (alugada) à hora marcada com duas viaturas para recolherem os elementos do grupo e respetivas caixas com as bicicletas, transportando-nos até ao aeródromo da Graciosa para mais uma viagem aérea até à ilha Terceira, onde aterrámos perto das 19h00, já com um atraso considerável. Ao contrário do dia anterior, chuva foi zero.

De regresso às Lajes – Terceira, já nos aguardava o Rui Oliveira, um dos nossos contatos nesta ilha, que nos auxiliou no transporte das nossas mochilas. Novamente montámos as nossas bicicletas que haviam viajado pela última vez nas caixas que já nos acompanhavam desde o continente, cuja tarefa terminou já o sol se tinha posto, muito por culpa do atraso do voo, o que nos obrigou a fazer a ligação à casa que havíamos alugado, praticamente toda, em plena noite. No decorrer da montagem tivemos o nosso primeiro problema mecânico, o Manuel Maia partiu um dos parafusos fixadores da bomba de travão da frente, tendo sido substituído por abraçadeiras.
 
 

O ritmo deste prólogo foi elevado, tendo as nossas luzes sido imprescindíveis, pois apesar do piso ser totalmente asfaltado, rolámos diversos quilómetros em estradas rurais e deparámos-nos com subidas dignas do nome. Terminámos o prólogo pelas 23h20 e jantámos leve em casa do nosso recente anfitrião, onde ficaram arrecadadas as bicicletas. A restante distância de aproximadamente 800m até à “nossa” nova casa, fizemo-la a pé, onde já chegámos tardíssimo e sem possibilidade de apreciar a bonita vista, indo dormir já após a 01h00.


Após uma noite rápida e mal dormida devido ao pouco conforto dos colchões e ao som dos cagárros (ave marinha), pelas 07h30 já fazíamos fila para utilizar a única casa de banho existente na casa. Com o sol a brilhar neste sábado, pudémos finalmente contemplar a fantástica vista dos ilhéus das Cabras, localizados mesmo defronte à “nossa” casa típica. Seguiu-se uma caminhada de regresso a casa do Rui Oliveira, para tomar o pequeno-almoço e buscar as bicicletas.

Já passavam das 09h15 quando iniciámos o nosso percurso, que logo começou com chuva fraca dando depois lugar a um radioso sol, que se manteve até final do dia. Dois quilómetros adiante já esperava e desesperava o Carlos Reis, trilharista da ilha Terceira e membro e mentor do projeto União de Trilharistas dos Açores, o qual foi uma peça fundamental para apurar toda a logística necessária, uma vez que foi ele quem me "apresentou" e encaminhou aos 4 dos 5 contatos-guia nas diversas ilhas (exceção à ilha do Faial).

Com o problema mecânico do Manuel Maia ainda por resolver, o Carlos Reis levou-nos a fazer o primeiro desvio do dia, ao encarregar-se de nos guiar até às oficinas J. Aurora - Equipamentos Industriais, Lda.,  do torneiro mecânico José Aurora – também ele ciclista, o qual se prestou de imediato e sem reservas a fabricar um parafuso compatível, não tendo aceite dinheiro em troca.

Já bastante atrasados face ao planeado, o relógio já marcava perto de 10h30 quando, finalmente, chegámos à loja de bicicletas Total Bike para comprarmos botijas de CO2, uma vez que estão impedidas de viajar nos aviões mas que dão sempre um jeitão nos nossos tubeless. Aqui, mais um ciclista se juntou ao nosso grupo, o Luís Vasco, que também já desesperava pela nossa chegada. Este amigo havíamos-lo conhecido somente no dia anterior na ilha Graciosa, o qual meteu conversa connosco e, empolgado pela aventura, aproveitou a estadia na Terceira para nos fazer companhia, apesar da bicicleta emprestada não ajudar à tarefa.

Finalmente (re)começámos a etapa nas ruas do cais de Angra do Heroísmo, onde por toda a parte se viam indícios dos festejos alusivos às Festas Sanjoaninas. Daqui subimos até à Reserva Florestal do Monte Brasil, onde desfrutámos dos primeiros quilómetros do dia de excelentes trilhos de terra batida. Aqui visitámos a recentemente inaugurada (dia anterior) estátua a El Rei D. Afonso VI. Daqui até Santa Bárbara, onde parámos para almoçar ao km34, o percurso foi todo ele asfaltado por falta de opções em piso diferente.

Após o revigorante almoço o Carlos Reis teve de abandonar o grupo e os restantes 7 seguimos para mais uma empreitada de 30km, recomeçando com um regresso à terra batida nas encostas junto ao mar das Doze Ribeiras, onde tivemos o 2.º problema mecânico do grupo, pois o Renato Valério golpeou o pneu traseiro junto ao aro, obrigando à montagem de uma camara de ar, que veio a aguentar-se até final da aventura.

Os 10km seguintes foram sempre a subir – e que subidas - até à Reserva Florestal da Mata da Serreta, maioritariamente num fabuloso piso de terra vermelha, rodeado de pastagens e densa floresta, afastando-nos do mar em direção ao interior da ilha. Pelo caminho e devido a dificuldades mecânicas que não lhe permitiam acompanhar o ritmo do grupo, “perdemos” o outsider Luís Vasco, que decidiu atalhar até ao final da etapa.

Quanto ao nosso original grupo, ainda nos passeámos a ziguezaguear pelo percurso planeado onde, mais uma vez, voltámos a ter problemas mecânicos. Desta vez coube ao Carlos Navalho, que também golpeou a roda traseira junto ao aro, resolvendo-se com a montagem de uma camara de ar. E no próprio dia em que as comprámos, gastámos logo 2 das 6 bombas de CO2 que havíamos comprado.

Pelo meio, ainda fomos forçados a alterar novamente o percurso quando um Cão de Fila de São Miguel nos barrou a passagem num caminho agrícola próximo a uma propriedade (provavelmente a do dono dele), desviando-nos de um trilho em terra batida para uma estrada asfaltada. Para terminar, um trilho técnico e rochoso junto à costa e próximo às piscinas dos Biscoitos.

Chegámos ao final da etapa pelas 17h00 onde já nos esperavam as nossas pesadas mochilas transportadas no carro pelo Rui Oliveira. A dormida havia sido marcada no Parque de Campismo dos Biscoitos (péssima escolha), onde presumíamos existirem bungalows, mas que na verdade esperavam-nos 3 tendas pequenas dotadas de colchões de casal. Para ajudar à festa o local fica bastante isolado do centro da povoação. Felizmente o bar de apoio e os funcionários eram porreiros e tinham umas tostas fantásticas, no entanto fechou cedo e fomos obrigados a caminhar uns 2km para irmos jantar. O dia acabou sobre um colchão insuflável e novamente ao som dos cagárros, desta vez mais estridentes porque as paredes das tendas são finíssimas...
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Mais uma noite mal dormida e com dores de costas! Felizmente o céu estava limpo e prometia um excelente dia de pedaladas, apesar de nos esperar uma das etapas mais duras desta nossa aventura açoriana. Depois de deixarmos as nossas mochilas nas tendas, para posterior recolha e transporte até final da etapa pelo nosso amigo Rui Oliveira, avançámos 1,5km para tomar o pequeno-almoço. Depois, para animar, começámos com uma subida de 10km, que nos levou desde os 12m aos 542m de altitude, por paisagens simplesmente idílicas e inspiradoras, quase sempre em terra batida.

Ao km35 estávamos quase a meio do percurso planeado de 83,77km, cheios de fome e de regresso à zona costeira, mas apesar de estarmos na Estrada Regional junto a povoações, talvez por ser domingo não havia local próximo onde comer, o que nos obrigou a um desvio de 5km ao longo da estrada principal até Vila Nova, passando por localidades em festa e até por uma procissão. Enquanto enchíamos o bucho numa pastelaria, verificámos que o nosso desvio nos havia levado novamente ao track planeado, atalhando-lhe cerca de 22km. Esta realidade levou-nos a ponderar não voltar atrás e seguirmos o track para terminarmos mais cedo a etapa e ter-mos tempo para lavar roupa e pô-la a secar, além de aproveitarmos o facto de no dia seguinte ser feriado em Angra do Heroísmo e esta noite haver festa rija de Sanjoaninas. Não podíamos desperdiçar a oportunidade de, estando na Terceira, não assistir à grande noite de desfile das afamadas e tradicionais marchas Sanjoaninas.

Assim, mantivemos o atalho e fizemos os restantes 20km que se revelaram de relativa facilidade, passando junto ao perímetro do aeroporto das Lajes e depois pelo passeio marítimo da Praia da Vitória, num percurso maioritariamente urbano e asfaltado. Conforme planeado, chegámos cedo à casa alugada no Cabo da Praia, onde já se encontravam as nossas mochilas com os nossos haveres. Tivemos tempo para despachar as tarefas planeadas, uma vez que a moradia possuía boas condições para tal. Mais tarde, chamámos um táxi de 9 lugares e fomos jantar a Angra do Heroísmo e assistir às marchas Sanjoaninas, onde nos demos ao luxo de prolongar a noite um pouco mais, já que no dia seguinte só teríamos pedalada ao final do dia.


24JUN: Mini-prólogo São Jorge – Velas (450m)
Finalmente desfrutámos de uns aposentos consideravelmente confortáveis face às noites anteriores. Também pudemos dormir até mais tarde porque a ligação de ferry só teria início às 14h30 e as bicicletas iriam ser despachadas sem necessidade de desmontar. O almoço foi no restaurante do cais. A ligação marítima Terceira/São Jorge demorou cerca de 7h e deu para descansar, desfrutar das paisagens e até jantar a bordo, mas infelizmente não avistámos baleias nem golfinhos.

À nossa chegada ao cais das Velas já nos aguardava o nosso contato local, o Paulo Silveira. O representante na ilha de São Jorge da União de Trilharistas dos Açores. Como a distância ao local de hospedagem era curta, carregámos somente pela segunda vez as nossas mochilas às costas e encaminhámos-nos para a dormida, mas ainda tivemos tempo para um breve passeio apeado pelo centro da vila.



Ligações + estágio #1 = 92,59km/3.282D+

A logística previa apenas uma etapa para esta ilha, em cuja estada se resumia a 24h. Para podermos percorrer toda a ilha precisaríamos de pelo menos 2 dias/etapas, mas não tínhamos tempo nem planeamento para tal.

O dia adivinhava-se duro, pois a etapa prometia 79,62km com um desnível positivo de 2.492m, no entanto acabou por sofrer dilatações. Conforme combinado, às 08h30 já o nosso contato local, Paulo Silveira, nos aguardava à porta da Hospedaria Austrália. Com uns minutos de atraso juntamos-mos a ele, depois de deixar as pesadas mochilas ao cuidado da proprietária, que acedeu guardá-las, uma vez que terminaríamos o percurso ali.

Os primeiros 12km foram feitos a subir e praticamente sempre em asfalto, a que se seguiu uma visita à Ponta dos Rosais, já em terra batida. Dali, seguimos em direção à Reserva Florestal das Sete Fontes, onde visitámos o miradouro ali próximo, obrigando a um pequeno desvio. Do km32 ao km48 subimos desde os 280m aos 1.014m de altitudem cujas subidas íngremes e intermináveis nos levaram de um sol agradável a um frio e encoberto nevoeiro, sempre em caminhos de terra.

Conforme planeado, ao km60 fizemos uma paragem num café no Norte Pequeno para comer umas sandes previamente reservadas. Os restantes 30km não se previam complicados e levaram-nos do centro da ilha novamente até à costa, por trilhos prazenteiros e em parte asfaltados, onde aqui e ali nos pudemos regalar com algumas zonas técnicas em rocha e caminhos de terra bastante rápidos.

Regressámos a Velas ainda o sol brilhava forte. Como não tínhamos onde tomar banho e a ligação S. Jorge/Pico por ferry só iria acontecer às 21h20, optámos por ir recolher as mochilas à hospedaria e aproveitar as piscinas naturais de Velas para o nosso primeiro mergulho no mar e um duche nas instalações de apoio, seguindo depois a pedalar alegremente de mochila às costas para um restaurante no centro da vila.
 
 


25JUN: Prólogo Noturno Pico - São Roque/São Miguel Arcanjo
 Ligação (noturna)

Desembarcámos em São Roque do Pico às 22h10 após 30min. de viagem, onde mais uma vez nos esperava um nosso contato. Desta feita o Rui Maciel, também ele um membro da União de Trilharistas dos Açores, representante da ilha do Pico, que se fazia acompanhar por mais um amigo, estando apetrechados e dispostos a transportar todo o grupo, bicicletas e mochilas desde o cais até à Sara Village Sportfish, onde havíamos reservado estadia, mas declinámos tão simpática ajuda e aceitámos somente a ajuda do Rui para nos transportar as mochilas.

Mais uma vez demos utilidade às luzes e apesar de já havermos pedalado quase 93km ao longo do dia, adicionámos mais 3km noturnos em asfalto, onde atalhámos o já curto percurso planeado por conselho do nosso anfitrião, com vista a fazermos o check-in o mais rápido possível para libertar o proprietário que nos esperava no local. Terminámos o longo dia a saborear uma bebida num bar do cais, acompanhados pelo nosso anfitrião.

Estágio #1 = 90,11km/2.716D+

Às 08h45 reencontrámos o Rui Maciel numa pastelaria junto ao quartel de bombeiros local, onde nos esperava acompanhado de outro bttista local, o Júlio Aroeira, para se juntarem ao nosso grupo para a primeira etapa prevista para a exigente ilha do Pico. Já com o pequeno-almoço tomado, fizemos-nos à exigente e quase contínua subida de quase 28km de extensão que nos levou desde os 10m aos 935m de altitude por estradas rurais, ora asfaltadas ora em pisos de terra, onde de vez em quando nos cruzámos com algumas manadas de vacas.

O dia estava fresco e o sol envergonhado, mas a extensa subida pôs-nos a suar num instante!  Sensivelmente a partir dos 800m de altitude o nevoeiro começou a adensar-se intensamente, tanto que a visibilidade não ia além dos 10m, por isso achámos por bem ligar as luzes traseiras, pois apesar de ser terra batida ainda nos cruzámos com alguns carros e muitas pick up’s . Quem tinha capas ou manguitos aproveitou a paragem no local mais elevado do dia para se equipar a rigor. Segundo os nossos “guias” a vista a partir dali é simplesmente fenomenal, mas devido ao nevoeiro não o pudemos confirmar, por isso lá seguimos para uma longa descida, quase sempre em terra batida.

De regresso à zona costeira e ao asfaltado, fizemos uma pequena alteração para o miradouro da Terra Alta, que se localiza junto à Estrada Regional, mas que paralelamente tem um pequeno single track interior, de uma beleza ímpar. Dali seguimos em direção à Ribeirinha, metendo-nos por uns trilhos bem selvagens, exigentes tecnicamente, de terra e rochas entre campos de cultivo, terminando junto ao mar por um single track pouco ciclável e sinalizado para caminhadas.

Um furo numa das rodas do Rui atrasou-nos os planos para o almoço previsto em Manhenha, porém tivemos de continuar a fazer sobe e desces constantes, exigentes e já com bastante calor, porque o restaurante planeado se encontrava encerrado. Tivemos de pedalar mais 5km até à Calheta de Nesquim, onde encontrámos um simples mas bonito restaurante situado à beira-mar.

Após o almoço o Rui teve de nos abandonar e seguimos os 7 em direção a São João. O percurso vespertino foi todo ele junto à zona costeira e cerca de 90% em asfalto. Em Santa Bárbara deparei-me com a subida mais íngreme que alguma vez havia subido. Apesar de asfaltada, a inclinação oscila entre os 18% e os 22% numa extensão de quase 2km, esta estrada secundária que passa entre casarios e onde conseguimos arrancar diversas salvas de palmas a alguns moradores.

Um estradão em terra batida levou-nos até à entrada das Lajes do Pico e esta foi a derradeira vez que cumprimos com o track, pois apercebemos-mos de que o planeado não nos trazia qualquer benefício, somente saía da estrada principal de vez em quando para apanharmos estradas secundárias paralelas, igualmente asfaltadas mas cujas regulares descidas/subidas só acrescentavam cansaço físico e mental. Finalmente chegámos ao final da etapa, na Companhia de Baixo (S. João), onde fomos surpreendidos pelo tamanho e condições da casa (vivenda) que tínhamos alugado. Era enorme e até garagem tinha para guardarmos as biclas. Passados uns minutos, o Rui voltou a juntar-se a nós, desta feita de carrinha trazendo os nossos sacos e levando de volta o Júlio. Depois de colocarmos as 2 máquinas de lavar roupa a funcionar, fizemos uma caminhada de 1km até uma pizaria local para jantarmos.

O dia voltou a amanhecer com um sol fantástico. A nível geral, ninguém se queixou das costas nem de ter dormido mal. Depois do pequeno-almoço tomado, às 08h30, o Rui Maciel lá estava novamente com a carrinha para recolher as nossas mochilas e aliviar a nossa loucura. Esperava-nos a etapa mais curta de todas, porém a que tinha a maior oscilação de altitudes entre todas.

Hoje, o grupo de 6 pedalava sem guias. A montanha do Pico localizava-se imponente ali mesmo por detrás da “nossa mansão”, elevando-se nos seus 2.351 metros de altitude e pela primeira vez desde que chegáramos às ilhas, conseguíamos vê-la até ao topo sem nenhum nevoeiro a rodeá-la. O percurso encaminhou-nos inicialmente para uma estrada secundária asfaltada junto ao mar, onde tivemos direito a uma pequena extensão em terra batida. Em São Caetano começou aquela que seria a subida mais longa desta nossa aventura.

A subida começou de imediato com uma inclinação a rondar os 18%, em asfalto, ziguezagueando por ali acima. Olhando lá para cima não se calculava qualquer forma de lá chegar de tão inclinado que era. A pouco e o grupo foi-se partindo em diversos andamentos e eu fiquei a segurar a cauda do pelotão, cá bem para trás, controlando o esforço e apreciando a paisagem. A cassete estava no último prato (50T) da relação 1/11x50 da transmissão Sram Eagle NX 12v que optei por estrear nos Açores. As opiniões, sobretudo de utilizadores brasileiros, que havia encontrado na net relativamente a este kit tinha-me deixado reticente quanto à compra, ainda assim fico feliz por me haver decidido favoravelmente, apesar de ser a relação de 12v mais barata do mercado é bastante fiável, fácil de afinar e certinha no escalonamento.   

O piso foi-se alternando entre o asfalto e a terra batida. Nas zonas asfaltadas, de vez em quando lá se cruzava um carro de turistas connosco que nos cumprimentavam energicamente. Nas zonas de terra íamos avançando rodeados de vacas espalhadas por todas aquelas encostas e, por vezes, até as encontrávamos em pleno caminho. Aqui e ali fui parando para tirar umas fotos e fazer umas filmagens. Quando dei por mim, olhei lá para a frente e para cima e já não consegui avistar o elemento do grupo que seguia à minha frente. Acho que pedalei uns bons 45 min. a solo, a maioria dos quais já na parte final da subida, a qual se faz pela estrada asfaltada de acesso ao topo, mas ainda assim só me cruzei com 3 carros.

À medida que fui subido, a temperatura foi baixando. O sol brilhante deu lugar a um enevoado e alguns pingos de água. Junto à placa de informação da montanha do Pico aproveitei para parar, comer qualquer coisa e recuperar o fôlego. Dali até à Casa da Montanha (CM) foi cerca de 1km. A CM é um apoio logístico aos aventureiros e é ali que se registam quem pretende fazer a subida (restante) ao cume da montanha. À esquerda e junto à CM existe um enorme parque de estacionamento, porque a passagem a veículos encontra-se vedada para o topo, só sendo permitida a veículos autorizados, no entanto, de bicicleta não há barreiras e lá continuei, agora por um caminho de rocha vulcânica. Aos 23km havia atingido a altitude máxima planeada para esta etapa e ilha, os 1.261 metros.

Após passar a CM e imediatamente antes de iniciar a descida voltei a integrar o grupo. O Manuel e Renato esperavam-me no trilho, o Anacleto e o Vítor haviam ido visitar a CM e nem se aperceberam de eu os haver ultrapassado. Agora já com o grupo todo unido, lá seguimos montanha abaixo, com algum vento e umas pingas de água à mistura, mas umas centenas de metros adiante fomos obrigados a parar para abrirmos uma portada de uma vedação, para lá da qual encontrámos uma manada de vacas dispersas pelo campo e, algumas delas, bem no centro do nosso caminho, mas ordeiramente e respeitando o espaço delas, lá passamos sem dificuldade, ainda que a maioria de nós não tenha conseguido evitar pisar bostas, que no decorrer da descida lá nos foram salpicando equipamento, mãos, cara e tudo o resto.

Ao km28, após cruzarmos a Estrada Longitudinal (ER3-2), o track planeado que dali em diante era sob a forma de single track, por sinal bem desafiador, veio a revelar-se o maior erro da nossa logística na preparação dos percursos. A pouco e pouco o trilho foi-se “apagando” e num repente vimos-mos no meio de um pasto sem possibilidades de pedalar e o suposto trilho não era mais que o leito de uma ribeira seca e cheia de gigantescas pedras. Voltar para trás não parecia opção, já que a inclinação era considerável e ainda tínhamos convicção de que o caminho melhorasse, o que acabou por não acontecer. Fizemos mais de 1km com as bicicletas à mão ou às costas, saltando vedações e muros até que finalmente conseguimos chegar a estrada ciclável, um enorme estradão de gravilha preta.

A aventura lá regressou à suposta normalidade e as descidas continuaram a suceder-se. O céu, que se mantivera cinzento desde meio da manhã, voltou a limpar e deu lugar ao sol, como que a brindar-nos. Os estradões sucediam-se, primeiro terra preta e depois terra vermelha, mas sempre sempre a descer, serpenteando por entre muros de rochas vulcânicas, por cima dos quais já conseguíamos avistar o mar e a bonita ilha do Faial, nosso próximo objetivo.

Na parte final da descida de acesso à zona costeira rolámos em asfalto, mas na nossa “visita” e passagem pela zona de vinhas designada por lajido criação velha (área protegida), regressámos ao piso de terra vermelha, serpenteando pela bonita paisagem de estradões ladeados de muros de rocha e videiras, com o mar ali ao lado sob um sol magnífico e uma suave brisa marítima.     

Ao contrário do previsto e mesmo com as contrariedades, terminámos a etapa 1h30 mais cedo, ainda antes das 14h00. A fome já apertava tremendamente. Na marginal calcetada da Madalena encontrámos um restaurante que nos atraiu pelo aspeto e ambiente. Bem localizado, preços em conta e serviço self-service. Para evitarmos a deslocação e chegada ao apartamento no Faial já noite dentro, conforme antes planeado, em concordância geral decidimos fazer uns contatos no sentido de conseguirmos antecipar a viagem de navio umas horas, o que veio a acontecer com um telefonema. Ligámos ao nosso hospitaleiro amigo, Rui Maciel, que amavelmente alterou os seus planos para se poder encontrar connosco no cais da Madalena, trazendo-nos os mochilões.

Após uma viagem de 30 minutos de navio, entre a Madalena (Pico) e a Horta (Faial), ainda com o sol brilhando, pedalámos o último 1,5km do dia para alcançarmos o apartamento que seria o nosso último Quartel-General (QG) desta aventura. Apesar de espaçoso, apenas 1 quarto, mas 1 enorme sala (salão) com kitchenette, apoiado por 2 casas de banho. Bem localizado a 5 min. a pé da marina e do Peter’s Café. À noite aproveitámos para nos abastecermos de mantimentos para os 3 dias seguintes e conhecer um pouco da cidade, após o que fomos jantar a um dos restaurantes mais típico da Horta – Restaurante Atlético.


 Ligação Cais/Casa = 1,52km/21D+ e Estágio = 65,90km/2.270D+

Combinado de véspera com o nosso anfitrião da ilha do Faial, Inácio Russo, às 08h45 reunimos o grupo de 7 bttistas nas traseiras do nosso novo QG, para darmos início ao nosso derradeiro percurso nas ilhas do grupo central dos Açores. A ementa previa 83,26km, regados com 2.379 metros de acumulado mas, acabaria por não ser bem assim...

Os nossos primeiros 9km foram em asfalto, fáceis e descontraídos e serviram para nos conhecermos melhor (grupo e anfitrião), enquanto íamos apreciando a beleza das paisagens que nos rodeavam, tendo a primeira paragem sido na Moto Horta, mais um dos nossos imprescindíveis colaboradores, onde pudemos juntar as caixas indispensáveis que nos serviriam de transporte às nossas bicicletas no voo de volta a Lisboa.

A partir do 9,5km começámos verdadeiramente a subir, até ao perímetro da cratera do vulcão faialense, na Reserva Natural da Caldeira do Faial, localizado ao km20 do nosso percurso onde atingimos a altitude máxima do dia: 991 metros. Este traçado foi quase todo ele em estradão, serpenteando por entre florestas e campos agrícolas de pastoreio. À medida que fomos subindo o tempo foi alterando. Ora havia sol, ora chovia, ora fazia vento. A temperatura também oscilava consideravelmente, levando-nos a vestir/despir constantemente as capas de chuva e restantes agasalhos.

Ao km30 fizemos a primeira alteração ao track planeado, sob proposta do nosso anfitrião, saindo da rota para percorrer e testar uns desafiantes singles no Parque Florestal do Capelo, onde nos deliciámos (à exceção do Carlos Navalho) ao longo de 3km com trilhos técnicos e desafiantes no interior da floresta.

À medida que o dia ia passando, o tempo ia melhorando consideravelmente. Ao km34 e após decisão unânime, optámos por encurtar o nosso percurso planeado, uma vez que o cansaço acumulado nas pernas já era considerável ao fim de tantos dias de pedaladas. Simultaneamente teríamos a possibilidade de terminarmos mais cedo para depois desfrutarmos de alguns momentos de descanso e lazer. Assim, os restantes 31 quilómetros desenrolaram-se em asfalto, pela Estrada Regional (ER), o que de certa forma acabou por ser a decisão mais inteligente, uma vez que depois tive o cuidado de colocar lado-a-lado os percursos: planeado vs. realizado, sendo que o planeado seguia cruzando-se sucessivamente com a ER, também em asfalto e calçada, aumentando consideravelmente o acumulado e quilómetros sem acrescer beleza ou terra àquele que fizemos.

Pelo meio fizemos a planeada paragem para almoço, na Praia do Norte, após o que se seguiram cerca de 30km quase sempre a descer, em asfalto, num ritmo elevado e em permanente competição amigável entre os elementos do grupo. Independentemente de rolarmos em asfalto, as paisagens foram merecedoras da nossa passagem, quase sempre com o mar à vista, a escassas centenas de metros. Pelo meio despedimo-nos do nosso anfitrião que aproveitou a proximidade a casa para terminar a sua volta. O regresso à Horta foi apoteótico, com passagem por diversas ruas da cidade e algumas alterações finais ao trajeto devido a enganos de leitura gps de última hora.

Chegámos à Horta ainda o sol brilhava. A alteração ao percurso, para facilitar na sua altimetria, havia sido uma boa opção, pois o percurso original não acrescentaria trilhos deslumbrantes nem zonas fantásticas, somente dureza com constantes sobe-desce, além de que assim tivemos oportunidade de dedicar o final do dia para conhecer melhor a cidade.

O último dia da nossa estadia no Grupo Central dos Açores foi dedicado quase em exclusivo a arrumarmos todas as nossas coisas e embalarmos as bicicletas devidamente. A meio da tarde e mais uma vez, o nosso guia juntou-se a nós, desta vez para carregarmos as caixas com as bicicletas e nos transportar até ao aeroporto para rumarmos a casa, onde nos despedimos de mais uma aventura épica e inesquecível.





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumos vídeos das etapas
(caso não seja possível visualização, clicar nos respetivos links de "resumo")

Resumo Graciosa (prólogo + 1 estágio)

Resumo Terceira (prólogo + 2 estágios)

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